A lenda do oficial Echenique e da sua amante fantasma

Esta é uma lenda urbana de Madrid que pouca gente conhece, principalmente os estrangeiros, e que envolve um fantasma, um palácio e um Guarda de Corps. Se ficaste curioso e queres conhecer um mais um pedacinho de Madrid que pouca gente conhece, continua a ler.

O que é um Guarda de Corps?

Antes de entrarmos na lenda, convém explicar o que é um Guarda de Corps. Trata-se de um termo francês que significa literalmente “Guarda do Corpo” e que designa um soldado ou oficial que faz parte da guarda pessoal de um rei ou de um nobre. Em Espanha, os guardas de corps eram uma unidade militar de elite que servia diretamente ao monarca e que tinha como função protegê-lo de possíveis atentados ou rebeliões.

Os guardas de corps usavam uniformes distintivos, compostos por casaca azul com botões dourados, colete branco, calças vermelhas e chapéu tricórnio com penacho branco. Além disso, portavam uma espada e uma pistola como armas. Eles tinham acesso aos aposentos reais e acompanhavam o rei em todas as suas viagens e cerimónias.

A lenda do Guarda de Corps

A história remonta ao século XVIII, quando reinava Carlos III, o monarca ilustrado que modernizou Madrid e construiu vários edifícios emblemáticos, como o Palácio Real, a Porta de Alcalá e o Museu do Prado. Madrid era uma cidade cheia de vida e mistério. Entre os seus habitantes, destacava-se um oficial do corpo de guardas reais, Juan Echenique, famoso pela sua habilidade com as mulheres e com as cartas.

Uma noite de primavera, enquanto se dirigia ao Palácio Real para fazer a sua ronda, algo chamou a sua atenção. Era uma voz feminina que assobiava de uma varanda de uma casa na Calle Sacramento. Echenique levantou os olhos e viu uma mulher deslumbrante que lhe fazia sinal para que entrasse. O oficial, seduzido pela beleza e pelo mistério da desconhecida, não hesitou em seguir o seu convite.

Uma noite de paixão e terror

O que se seguiu foi uma noite de paixão ardente e secreta, que só foi interrompida pelo som dos sinos da igreja mais próxima. Echenique, ao ouvir as badaladas, lembrou-se de que tinha que ir ao palácio cumprir o seu dever. Vestiu-se à pressa e despediu-se da sua amante, prometendo voltar em breve.

No entanto, ao sair da casa, reparou que se tinha esquecido do sabre no quarto. Voltou atrás para o recuperar, mas o que encontrou foi algo que o deixou sem fôlego…

A casa onde tinha passado as últimas horas estava agora em ruínas, como se estivesse abandonada há muito tempo. Não havia nenhum sinal da mulher que o tinha enfeitiçado, nem de ninguém que ali vivesse. Echenique perguntou a um vizinho se sabia quem era a dona da casa e este respondeu-lhe que ela tinha morrido há anos, vítima de um crime misterioso.

O oficial não podia acreditar no que ouvia e via… entrou na casa e subiu as escadas a correr. Quando chegou ao quarto, encontrou o seu sabre coberto de pó e teias de aranha, no mesmo lugar onde o tinha deixado.

A redenção do pecador

Echenique sentiu um calafrio na espinha e fugiu da casa assombrada como se fosse perseguido pelo diabo. Correu até à igreja mais próxima, a de San Justo, e entrou nela em busca de refúgio e perdão. Ajoelhou-se diante de um Cristo crucificado e depositou aos seus pés o seu sabre e a sua bandoleira, como símbolo do seu arrependimento. Echenique compreendeu que aquela tinha sido uma lição divina para o castigar pelo seu passado libertino.

A partir desse dia, renunciou à sua vida anterior, e com ela à sua fama de conquistador e jogador, e entrou num convento, onde passou o resto dos seus dias longe da tentação e da frivolidade.

O Cristo passou a ser conhecido como o Cristo da Guarda de Corps e é levado em procissão durante a Semana Santa.

A casa foi demolida em 1972 e o local foi utilizado como parque de estacionamento da Câmara Municipal.