Ao passear por Madrid, mais concretamente pela Plaza de la Puerta Cerrada em La Latina, alguma vez reparaste na frase que lá está pintada na parede?  “Fui sobre agua edificada, mis muros de fuego son”.

O que significa esta frase misteriosa? De onde vem? E o que nos revela sobre Madrid? Vou responder a estas perguntas e muito mais neste post. Acompanha-me nesta viagem pelo passado e pelo presente de Madrid.

O que significa o lema de Madrid?

O lema de Madrid é uma frase em castelhano antigo que se traduz por: “Fui construída sobre água, os meus muros são de fogo”. Esta frase faz referência a dois elementos fundamentais na origem e na defesa de Madrid: a água e o fogo. A água alude à abundância de fontes e cursos de água subterrâneos que existiam na zona onde se fundou a cidade. O fogo alude à resistência das muralhas de pedra que protegiam a cidade dos ataques inimigos.

“Matrice”, a mãe das águas

A relação da região com a água pode mesmo ser anterior aos muçulmanos. Como explica Jaime Oliver Asín no seu livro “Historia del nombre de Madrid”, a povoação visigoda antes da chegada dos muçulmanos chamava-se “Matrice”, que se traduz por “mãe das águas”. Os visigodos encontraram uma grande fonte na atual Plaza de Puerta Cerrada (onde se encontra o mural com referência ao lema da cidade), onde um riacho desembocava no rio Manzanares.

De onde vem o lema de Madrid?

O lema de Madrid tem a sua origem no século IX, quando a cidade era um pequeno povoado muçulmano chamado Mayrit. Os muçulmanos construíram uma fortaleza sobre uma colina junto ao rio Manzanares, aproveitando as condições naturais do terreno. Os árabes, grandes mestres da canalização da água, terão traduzido o nome visigótico para “Mayrit”, palavra composta pela palavra árabe “Mayra” (mãe ou ventre) e pelo sufixo “it” (lugar).

A fortaleza estava rodeada por uma muralha feita de sílex, um tipo de pedra que produz faíscas quando é golpeada. Segundo a tradição, quando os cristãos atacavam a cidade à noite, as flechas que chocavam contra a muralha faziam saltar chispas que pareciam fogo. Assim, os muçulmanos diziam que os seus muros eram de fogo.

A água também era um recurso vital para os habitantes de Mayrit. A cidade dispunha de vários poços e fontes que abasteciam a população e os cultivos. Além disso, existia um canal subterrâneo que levava água desde o rio até à fortaleza. Este canal era conhecido como “al-Majrīṭ”, que significa “a fonte” ou “a mãe das águas” em árabe.

Após a Reconquista, recuperou-se o termo cristão “Matrice”, que evoluiu para “Matrit” e, mais tarde, para o atual Madrid.